Épocas passadas e tempos vindouros

11:16

Tempo que foi não pode ser reaproveitado e a pouca utilidade que lhe prestamos não pode, sequer, ser repensada. Cresce o sentimento de culpabilidade e de frustração face à escassez de tempo para usufruir do tempo no seu devido tempo. Ontem que vi os minutos esgotarem-se como segundos, consumíveis numa avidez tal, percebi que o que é bom não passa depressa, tem a duração que tem para ser percebido como tal. Se fosse arrastado no tempo deixaríamos de o conservar na memória como bom.

Quando temos menos tempo do que aquele que gostaríamos, apontamos baterias, concentramo-nos exclusivamente em algo ou em alguém e conseguimos dar tudo de nós, do nosso tempo, da nossa vida. Não alimentamos a certeza de que amanhã teremos tempo, de que haverá uma continuidade - e com ela, também a possibilidade de fazermos melhor, mas sem efectivamente fazermos por isso! Se as horas parecem desfilar com morosidade, sentimos raiva, desespero, tédio, apatia. Quando o sofrimento toma conta das nossas inclinações anímicas, ansiamos por uma aceleração temporal inconcretizável.

O tempo tem a sua própria validade. Deve ser empregue a seu tempo na devida altura. Se não brincamos aos 6 anos de idade, se excedemos as experiências que eram previstas para os 24, se aos 50 nos sentimos realizados e aos 67 anos lamentamos algo que faltou acrescentar, por ordem cronológica, na biografia, é porque o rumo mais adequado foi infligido. É grave quando deixamos de viver o que há para viver em determinada época da existência, seja por desleixo, ignorância, indiferença, pessimismo, idealismo, falta de oportunidades.

O tempo é a única coisa na vida que, em termos de coerência e estabilidade, é infalível. Mesmo que as pilhas de todos os relógios parassem, mesmo que a nossa percepção do tempo seja distinta consoante o estado de espírito com que olhamos para os ponteiros, o seu movimento é imparável, inalterável, inquebrável. E no tempo que ainda nos resta para viver, tentemos viver o que há para viver e não procurar reaproveitar o que nem sequer ficou para trás.

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