Pela pauta das incertezas

11:54

Estudo a folha pousada na frente dos meus olhos. Não sei como foi ali parar, só sei que agora me pertence. Também ainda não sei como vou acabar. Sei apenas que quero começar a ensaiar as notas que se alinham, para que o resultado final seja uma doce melodia.

Já não conheço bemóis, mas sustenidos. Acentuam-se as incertezas. O pensamento salta de possibilidade em possibilidade, na ânsia de fazer escolhas resolutas, mesmo sem conseguir prever, com o mínimo de segurança, se elas irão agradar aos ouvidos dos sonhos. Há um ritmo binário a marcar os compassos do tempo, a oscilar entre o que é – o que está ali, aos olhos de qualquer músico – e o que poderá ser – se contarmos com a improvisação de quem interpreta a música.

Escuto os sons que se articulam no espaço de silêncio das pausas, penduradas de quando em quando, ao longo da pauta, e obrigo-me a continuar. Depois da clave de sol, desenhada com imperfeição por um pulso nervoso e inseguro, há toda uma notação por definir. É agora que vou sentir o quanto custa interpretar as primeiras notas perante uma assistência numerosa e exigente.

Amanhã vou decidir se vou por aqui e não por além, se me meto por um atalho ou se percorro o caminho mais longo. Na encruzilhada, não há postos de informação turística, não há polícias nas ruas, não há pessoas a cruzarem-se connosco e também não convém seguirmos as que nos viram costas!

É entre um acorde atrapalhado e uma vontade de ser criativo que as palavras de Juan José Medina ganham uma nova sonoridade: “a grandeza de um ideal não está em atingi-lo, mas em lutar por ele”. Chego ao fim da partitura com certezas de que irei combater as hesitações sem esperar pelas palmas dos que não conseguem ouvir o vazio entre as notas musicais.

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