Atrás da janela a fitar a noite...

12:07

O frio que não sinto incomoda-me por ti, que desconheço o paradeiro. Ignoro o aconchego das almofadas do sofá e penso naquele encontro fortuito que nos aproximou. A mesma paixão pelas palavras, a mesma crença num tratamento igualitário para todos, a mesma força nos ideais, o optimismo no dia de amanhã.

Hoje, sem a vida ter pedido autorização, não sei de ti... Algo de revoltante se enraivece no meu peito. Trago esse sentimento domesticado a maior parte do tempo, mas não o domino quando o barulho do frio se entranha pela janela e abana as lembranças.

Apetece-me percorrer as ruas e tentar encontrar-te. Mas em quais? E de que cidade? O luar que um dia foi inspirador, aflitivo e, mais tarde, constrangedor é, por vezes, até para mim doloroso de aceitar como belo. A beleza estava naquela noite com um olhar ensombrado, mas nos recantos: a esperança na mudança.

O mundo agreste fechou-te portas, esmagou sonhos, matou afectos. No fim, agarraste-te outra vez à segurança de ti, à fraqueza da tua força. Não esmoreceste, só fugiste. Hoje será que a fuga está na origem da ausência de sinais?

Preocupa-me o frio que não sinto... Imaginar que não o sentes nas malhas da camisola gasta, mas algures mais além, a roçar-te a alma... A vida é, de facto, injusta quando consegue congelar os sonhos pequeninos de quem é grande de si, de quem despe a vergonha de desenrolar sentimentos ao luar. Até medos inconfessados, enraizados e confidenciais ditos à luz de estrelas apagadas.

Lá fora, sempre lá fora, a uma distância de mim, procuro-te na íntima vontade de querer saber se tão somente não estarás a ter frio ou mera vontade de conversar ao ritmo dos passos de quem não tem que chegar a horas a lado algum.

A manta que me cobre os joelhos pesa-me como chumbo, legitima a inércia, mas jamais a indiferença ou sequer o esquecimento. Poderei nem voltar a encontrar-te, permanece comigo a grande lição que aprendi contigo. O frio tem várias temperaturas anímicas consoante tenhamos um lugar nosso, um tempo por viver e alguém com quem se justifique tocar as estrelas com o olhar desanimado, saltitante e determinado.

Deitada neste sofá confortável desejo que a Lua te devolva a sorte que o Sol te roubou e que a paz de espírito te sequestre nas dobras do tempo resgatado aos melhores períodos da tua vida vivida.

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