Lágrimas de papel

10:36

Ao observar o horizonte velado pelos telhados pontiagudos das casas dos outros, senti um ardor nos olhos. Nesta manhã quase primaveril, uma sensação de posse percorre-me a alma e faz sucumbir as ambições. Resignada, admiti que os esforços foram inauditos, mas em vão. Há razões ocultas, imperturbáveis, persistentes que não evitam que hoje, nos primórdios matinais, tenha sentido as ruínas dos momentos felizes.

Lágrimas de papel brotam dos meus olhos, exaustos da futilidade de alguns dias, do pedantismo de certas pessoas desinteressantes. Mata-me essa mania das pessoas desgraçadas que se queixam de ser afortunadas por coisas supérfluas e afectos vazios.

Ao ver o horizonte tapado, nublado, aborrecido, olhei para mim e senti-me uma cópia do mesmo, simétrica ao rigor do milímetro. Mas como caberia em mim o horizonte? Talvez por tudo tenha deixado cair lágrimas de papel. Porém, na tinta emotiva, falham as propriedades de permanência além tempo e além circunstâncias.

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