Noite chuvosa

10:24

A chuva lá fora, a altas horas da madrugada, traz-me reminiscências dessas esperanças confidenciadas à janela, atiradas para o vazio com confiança. Antes, gostava de ficar só assim à janela a desenhar ilusões por entre a chuva, sem medo de as molhar. Chovia com intensidade e intensamente eu acreditava em mim e nos outros.

Na noite que derrama chuva, despeço-me das perspectivas, quando se calhar era tempo de as agarrar... Na noite que não me devolve a mistura da chuva com o som da água a cair na fonte, resvalo para longe de mim. Permito-me que os dedos tentem tocar a inefável distância que nos aproxima e, na ousadia desse gesto, desejo que a proximidade não seja distante.

A rua encharcada. Deserta. Os sonos descansados por detrás das persianas cerradas. E apenas a luz pálida a filtrar a chuva que cai... Sinto que também nós caímos. Demasiadas vezes. E com as quedas sucessivas deixamos que algo se vá diluindo para sempre.

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