Se eu fosse um alimento seria… uma castanha

08:21

Os meus antepassados passaram pela Ásia Menor, Balcãs e Cáucaso, testemunhando a história da civilização ocidental há mais de cem mil anos.
Juntamente com o meu amigo pistáceo, alimentámos o Homem primitivo e os seus animais, mas no Império Romano já éramos servidas em banquetes! Até chegámos a substituir o pão!
Desejadas por monges e freiras na Idade Média, acabámos por nos tornar num dos principais produtos farináceos da Europa, depois de moídas.
Mas o mais importante é que invadimos Portugal com os franceses e instalámo-nos, em definitivo, na Terra Fria Transmontana. Aqui, somos um dos cartões de visita da região, para além das imensas potencialidades económicas enquanto produto estratégico.
Já ergueram rotas à nossa volta e os turistas (sobretudo!) acham imensa piada ao nosso habitat. Salpicamos estas paisagens, mas gostamos de conhecer outras paragens, dentro e fora do país. Somos tipicamente outonais, embora sejamos bem recebidas durante todo o ano.
Eu fui baptizada de Boaventura e para fazer jus ao nome, sou uma companhia excelente. Ao conseguir arrancar sorrisos e gargalhadas, conservo as pessoas jovens; ao insistir numa vida agitada, sem lugar para o sedentarismo, previno as doenças cardiovasculares. Contudo, também posso causar problemas a certos corações… ou não fosse a minha fama de ser “quentinha e boa”. Mas, no fundo, sou apenas uma jovem semente, morena e arredondada. Tenho muita energia não fosse tão rica em hidratos de carbono e proteínas.
Não sou indigesta, a menos que me juntem com alimentos gordurosos e pouco recomendáveis, para experimentar receitas de amadores armados em chefes de cozinha.
Fora isso, sou muito versátil! Adapto-me bem a qualquer ambiente gastronómico. Posso ser cozida, assada ou frita, sem nunca perder o meu sabor genuíno.
Em regra, gostam de me acompanhar em pratos. Será porque sou irresistível? Depois de me experimentarem em puré, base para sopas, molhos, sobremesas, bolos e gelados, também me confeccionam para compotas, bolachas, farinha e licores. O pior é quanto a indústria alimentar me congela para fins meramente comerciais, esquecendo-se quase do meu valor intrínseco, que garante a melhor degustação possível…
Gosto de ser motivo de reunião e convívio, entre familiares e amigos. Em manhãs frias ou tardes chuvosas, vergastada pelo vento, acabo por sucumbir. Mas resisto. Protegida pelo meu ouriço, não é qualquer mão que me agarra! Mas o que mais gosto é que todos comemorem o meu aniversário: no dia de S. Martinho e que poucos saibam as histórias interessantes que escuto e roubo dos serões à volta da lareira.

(Porque há ideias simples que fazem com que ocasiões agradáveis incluam momentos inesquecíveis.)

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