O discurso dos engravatados

15:30

Semblantes de seriedade, uma aparência formal e uma educação cordial. Amontoam-se em espaços especiais, onde impera o luxo sóbrio ou uma simplicidade forjada. Os locais de encontro são, por norma, em entidades públicas.

Reunem-se para discutir problemáticas, sem terem um verdadeiro conhecimento de causa. Lançam estratégias, enunciam medidas, apontam fragilidades, avançam soluções inexequíveis, denunciam falhas governamentais, propõem alternativas inviáveis.

E deixam-se entrosar nesse debitar constante e demagógico, orgulhosos de si. Usam um vocabulário recheado de termos técnicos. Recorrem à legislação que poucos conhecem e que nem eles próprios dominam sem consultar a cábula que trazem no meio da papelada.

Usam sapatos engraxados e falam de agricultura, das dificuldades dos pequenos produtores, das condicionantes climáticas, dos escassos apoios estatais. Ajeitam as gravatas e sobem a pequenos pódios que lhes oferecem. Aí, reinam por momentos, perante auditórios adormecidos.

Debandam um discurso no vácuo, sem aplicação além da teoria. Tentam manter os interesses económicos e políticos ocultos. Chamam a comunicação social para que faça eco do seu palavreado. Alguns fornecem o seu discurso escrito (quantas vezes com erros ortográficos e de sintaxe!).

Gostam de apertos de mão e não dispensam as felicitações balofas dos seus congéneres. Isso fá-los crer que estiveram realmente bem. Mimam-se, mutuamente, com elogios sem fundamento.

E é o discurso dos engravatados que entretém, pontualmente, o tempo útil de quem quer trabalhar e de quem, efectivamente, vai trazendo este país de pé ou de gatas. De rasto trazem-no eles com os seus almoços / convívio, após tão empenhadas dissertações.

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