Naquele lugar…

14:03

O tempo preparado para a maratona e tu disposto a adiá-la só para chegar ali. Bastaram alguns minutos, fugidios e ímpares. Viste as aves cruzar aquela mancha de azul recortado. Debates-te com o vento agreste e, de novo, naquele lugar…

As memórias tomaram-te o pé de apoio. Não contrariaste. Afinal, aqui não há mil olhos à espera desse instante. A liberdade está sentada ao teu lado, sem importunar. Companheira, percebe os percalços das encruzilhadas, compreende os medos e os controlos. Ela tolera os teus impulsos sufocados e testemunha os sorrisos mais tímidos.

Pensas em ti e pensas que um dia talvez tragas alguém contigo até aqui. Ou talvez isso nem aconteça. O teu ar despreocupado reforça a certeza de que voltarás vezes sem conta para assistir extasiado à mudança de estado de espírito.

Ali, a saciedade acontecesse na mesa mais paupérrima de sempre, mas com as pessoas certas à volta. Naquele lugar, o diálogo fica gravado no silêncio que une. Observo-te do outro lado e esqueço-te.

Debruço-me sobre as cores que me pintam cá dentro. Talvez um dia, consigas vir até aqui. Talvez um dia, consigas entender e, aí, pertencerás a ti, fiel ao que acreditas, confiante no que defendes. E, então, o teu abraço ganhará uma nova dimensão, porque não serei eu, o “eu” que vês ou o “eu” que se esconde de ti, mas o somatório que ainda não conheces.

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