Sempre depois da meia-noite...

15:29

A noite demora-se, espreguiçando-se pela madrugada. Está, intimamente, embalada pelas palavras partilhadas. Uma empatia assustadoramente perfeita feita de um entendimento imediato. Há ali um código comum que só permite descodificações inequívocas e uma troca de sorrisos cúmplices.

Gostei desse lugar vulgar, com uma música de fundo a quebrar o silêncio que não ouvimos. Desfilaram vaidosos os minutos perante a troca de histórias, de pegadas que deixámos no tempo ou da forma como o tempo se tatuou em nós. Acabamos sempre por derreter as defesas na presença de quem traduz o que sente pela voz do coração.

Pousámos, ao lado dos sofás, o escudo que vestimos como pele mal o sol se levanta para passar despercebidos, para fugir à loucura que os outros nos atribuem. Assim, soltos de protocolos que regem a pacífica e acrítica convivência social, somos nós, sem medos nem reservas.

O chá fumegante a inundar a mesa de madeira com um intenso cheiro a canela e nós livres na expressão descomprometida dos sentimentos que as experiências nos provocam, livres para verbalizar a incompreensão face a certas visões do mundo, vulgares, conformistas e saudáveis.

Sem criar hiatos de entendimento mútuo, deixámos fluir pedaços de nós, mesmo aqueles que, na maioria dos dias, somos obrigados a ocultar. É com estes convívios fugazes que oxigenamos as emoções mais puras.

You Might Also Like

1 apontamentos

Total de visualizações

Procurar no blogue