Recantos

13:38

É na pastelaria centenária, bem centrada, que ele senta os anos numa cadeira da mesa redonda do canto. Usa óculos com um design contemporâneo, de cor preta, mas tudo o resto é da sua idade. Os tons escuros combinam com as cores da manhã abafada.

Ele passa a manhã por aqui, possivelmente sem falhar um dia. Vai entretendo o tempo que tem, agora que está dispensado das ocupações profissionais e dos afazeres domésticos. Tem uma expressão serena por detrás dos óculos colocados na ponta do nariz aquilino e sardento.

Tem o jornal cuidadosamente dobrado sobre o tampo de vidro. Já se inteirou das notícias, as da terra, as do país e, em menor importância, as do mundo. Olha agora vagamente e com vagar para todos os lados. Vê outros velhos, em outras mesas solitárias, dobrados sobre o jornal que lêem de lés a lés, enquanto sorvem um café mal cheio.

Mais afastada, vê a guarda de laranja - os empregados -, que simpaticamente o atende mal esboça alguma intenção de a solicitar. Depois, tira a carteira do bolso de trás das calças e vê os papéis inúteis, os recibos do bancos e outros similares. Aparentemente, arruma essas tralhas.

Por fim, ergue-se e, em passadas pequenas, caminha para acertar as contas do galão e do bolo. Enfia o jornal debaixo do braço descaído. Sai para a rua, atendendo aos dois degraus. A cadeira cá fica, abandonada, até que ele chegue pela manhã, amanhã, e se sente no mesmo lugar, debaixo do relógio parado.

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