Sol-posto

13:23

A luz tépida de fim de tarde, cuja silhueta é perturbada pela fina chaminé da padaria, obriga os óculos descerem pela testa morena. A nuvem gigante faz cócegas às que a rodeiam, enquanto o bulício se deixa tocar pelo silêncio.

Aqui, poderia muito bem ser o melhor lugar do mundo para se estar neste momento em que o ponteiro dos minutos balança entre este e o próximo. Poderia perfeitamente ser.

O guarda-sol, testemunho de várias andanças por zonas balneares ou florestais, está inclinado e já denota alguns sinais de velhice. Sim, porque ela também chega aos objectos, mesmo àqueles que mais gostamos e julgamos eternos. Aponta para oeste ou para qualquer outra direcção cardeal.

Não há carvão no fogareiro limpo, guardado por vasos gigantes com flores grandes e espalhafatosas, cuidadas por mãos zelosas. Na mesa que costuma ser só de quatro, pende a toalha de plástico, com uma cor verde desmaiada. Poiso os antebraços e contemplo as cores que tingem de escarlate discreto o horizonte enquadrado pelas duas enormes árvores que tenho à frente.

Nesta redoma tão familiar, não partilho algumas das letras que me obrigam a saborear a página mais do que o tempo médio. Gosto de estar aqui, neste sossego intransigente.

A inquietação que me abraça há já um bom par de dias deixa de me sufocar. Dá-me algum descanso e, então, sei que sou feliz no intervalo de certos minutos.

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