Silêncios inquietantes

16:35

O parque está vazio. O tempo escoltou a mudança indesejada. Já não há o riso das crianças a empurrar os baloiços nem o entusiasmo das pernas pequenas a fazer rodar os cavalinhos. Já não se vêem as filas e os atropelos para descer pelo escorrega que já perdeu a cor. Faltam as pernas a crescer com cicatrizes de pequenos arranhões roubados à areia grossa.

Passa a tarde nesta imobilidade a que se foi acostumando. Já nem fragmentos do eco longínquo das correias consegue recuperar. Por isso, o seu aspecto soturno e desmazelado. Sente-se um espaço inútil, que as entidades camarárias insistem em conservar nesse estado de coma.

O que o parque queria era pequenos a chegar pela mão dos pais e vê-los depois largá-la, eufóricos, para assegurar a sua vez no baloiço. Às vezes, também eram os avós a tornarem-se assistentes das traquinices. O importante era voltar a ter gente e não recolher olhares de nostalgia, endereçados à distância por gente grande, que um dia ali cresceu.

E, hoje, gostava de voltar a ser do tamanho adequado a este parque vazio para não ouvir este silêncio que até dói.

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