Será que, para ele, o tempo se esgotou?

04:10

Caminho pela rua distraída. Há pessoas apressadas logo pela manhã. E ao largo desse largo, surge uma memória.

Espreito, a medo, pela porta aberta ao público. Não entro. Não ouso sequer perguntar por aquela ausência que me inquieta . Prefiro não confirmar uma quase certeza e permanecer na hipótese de se tratar de uma doença ou de uma retirada necessária.

O relógio, o de pêndulo, continua lá, na parede de cor envelhecida. À sua volta estão todos os enteados. Nesse ofício inextinguível, falta ele, a dar novo vigor aos ponteiros que se cansavam de rodar. As mãos enrugadas, o corpo curvado sobre a banca de trabalho e o olhar microscópico já não estão lá. Até a ténue luz do candeeiro se apagou.

Há sombras naquele espaço pouco iluminado e uma pessoa mais nova e no outro lado, de frente para a porta.  Não me atrevo a entrar. Prossigo a marcha sem saber se o tempo dele chegou ao fim. Quero conservar, para mim (talvez por egoísmo ou necessidade de acreditar na parte imortal das pessoas), as lembranças daquela tarde morna.

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