Ofícios de mim

11:37

A tempo inteiro, sou nómada de alegrias,
Orgulhoso dos locais e das gentes que vou coleccionando.
Em certos instantes, sou descobridor de países onde pululam
Desilusões camufladas e traições no rasto de cada pequeno passo.
Em part-time, sou carteiro de esperanças efémeras
E, portanto, também turista de distâncias afectivas.
Ao fim-de-semana, sou trovador que dedica cantigas de escárnio à vida
Que me impingem todos os dias, sem dar à minha fraca vontade
A liberdade de ser trapezista sem a rede das hipóteses improváveis.
Às vezes, não sou mais do que cientista de emoções alheias,
Observando-as, com descrença, ao microscópio do ciúme.
Ah! Nas férias, costumo ser o palhaço das cumplicidades
Inexistentes, desencadeando gargalhadas postiças, ininterruptas.
Quando ainda me sobra espaço na agenda, tento ser preguiçoso
E corro, diligente, pela pseudo magia da caixa luminosa e cacofónica.
Na verdade, em todo o tempo, desejo apenas Ser
Sem conhecer as didascálicas do protagonismo.
Quero a condenação a um papel em que me encaixo,
Sem ter que sentir o tumulto das ambições
Ou o frenesim do descontentamento.

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