Coexistências

15:48

Ele era um revoltado com o sistema. Tudo estava mal planeado e pior executado ainda. Aos outros apontavam, facilmente, as falhas e os procedimentos incorrectos. Ele era um desempregado desesperançado. Aliás, como todos nós que procuramos um trabalho há meses sem receber sequer uma resposta.

A despeito dos olhares de esguelha que lhe dirigiam, ele esforçava-se por estar na ribalta dos amadores. Fazia intervenções (umas mais fundamentadas, outras completamente ocas) só para que a atenção recaísse sobre si. Não, não era sede de protagonismo, mas ânsia de ser ouvido, desejo de estabelecer uma conversa.

Ele era bem-disposto, dir-se-ia até que era uma pessoa positiva, dessas que devemos ter sempre por perto para evitar depressões, stress e outros males que a sociedade contemporânea resolveu instituir.


Ele espalhava simpatia e recolhia más interpretações, enquanto escondia e encerrava em si um drama que deitaria qualquer um de nós abaixo. Ele tinha uma parte de si a morrer, sem a mínima esperança de ser salva. 

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