(In)Quietudes

05:38

Queres a minha confissão descarada e de coração aberto? Aí a tens: estás à deriva e andas desnorteado. Contudo, pareces tranquilíssimo com a situação. Sei que não é tão linear assim, mas preciso de te dizer que gosto mais de ti igual a anteontem.

Sim, falta-te a agitação e o frenesim enervante. O brilho dos teus olhos esfuma-se como a energia que amortalhas no final dos dias pálidos. Seguras a bússola na mão, mas não tens o velhinho relógio de areia no tampo da mesa, que usas cada vez menos para assinalar pontos no mapa. Não te vejo a planear viagens nem a desejar conhecer novas paragens.

Apresentas-te como outro. Estás a deixar-te ir. Apenas. Sem questionar, tolhendo a indignação que, interiormente, te consome. Esfregas dentro de ti o argumento principal para sufocar a missão. Será mesmo isso? Afinal, que fizeste tu de melhor pelo mundo, pelos outros ou por ti próprio?

Repara bem. Muito pouco, enfim. No fundo, estamos todos aqui para ser individualistas e viver no mais camuflado do egoísmo. Existimos numa inércia que exclui grandes sobressaltos. Temos medo de arriscar mesmo quando não sabemos em quê (embora sintamos o porquê!).

Às vezes, gostava que houvesse uma enxurrada valente de acontecimentos novos na tua vida, que te fizessem balançar, gritar ou gargalhar. Falta-te tudo isso, porque nunca tiveste coragem para rejeitar esses determinismos que te acoplaram.

Então, talvez seja por isso, que vais por aí, esquecido de ti, um fugitivo declarado do teu “eu”, negando-me também.

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