Era um sonho, se faz favor

05:46

Hoje em dia, alguns sonhos servem-se, quentes, rápidos e efervescentes. Aos mais inalcançáveis é até possível fazer um salto à vara com fortes probabilidades de lá chegar. Hoje em dia, “lutar” por alguns sonhos é quase igual ao esforço de ocupar uma mesa, chegar ao balcão e pedir um café.


Por favor, era um sonho. Não daqueles doces, que guardamos para o Natal. É aquele simulacro de ideal e ambição sem querer conhecer a dose certa. Combina-se um local, com a gente recomendada e tenta-se chegar a horas. Senta-se e deixa que falem do sonho que diz ser seu. Está ali, presente e sereno, mas o sonho conhece-se pelas palavras dos outros. Não há ali emoções escondidas ou fugidias, porém, uma descarada indiferença.

[No outro tipo de sonhos emprega-se uma vida para chegar ao seu termo e sentir que nos aproximamos. É o sonho que nasce em nós e morre connosco, deixando-nos experimentar a esperança e a desilusão, o cansaço e o conforto.]

É um sonho, mas traga rápido. É só para não arrefecer. Já se sabe que, depois, o açúcar é mais difícil de derreter. Já se sabe que esses sonhos por encomenda têm validade curta e o seu sabor dilui-se entre o palato e o cerrar dos dedos em torno da chávena vazia.

Às vezes, de tão ferventes esses sonhos acabam por se dissipar, sem serem saboreados. Esses sonhos voláteis são como cafés, curtos ou cheios, que chegam à mesa: frios e sem açúcar.

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