Nortadas certeiras

09:34

Conheço bem o caminho. Observei-o pelas janelas grandes no banco de trás. Hoje encaro-o de frente. Sigo a mesma estrada, mas viro noutra rua. Aquela que me leva à porta transmontana que emigrou para a beira-mar. Naquela fachada em destroços, deixo sepultadas as vivas memórias dos tempos em que nos esperavas no portão esverdeado.

Há um vento forte e um cheiro a maresia que me inebria todos os sentidos. Há a certeza de que, por aqui, é quase impossível não respirar a paz. Há uma morosidade espantosa no tempo dos outros dias.

Vou ao encontro dos braços abertos, conhecidos tardiamente, mas sem prazo de expiração. Os sorrisos francos mimam a alma até atingir aquele estado de serenidade com que se acorda aos domingos de manhã.

Em morada adoptiva, é notável a ternura com que se sela cada gesto. Há momentos que de tão genuínos se tornam raros. Reina uma boa disposição constante que dá vontade de prolongar até à exaustão que não chegaria nunca.

Conversamos como se passássemos, de mão em mão, um lencinho ao qual acrescentaríamos um bordado. Só não corremos precipitados atrás dele, aguardamos simplesmente pela nossa vez.

Vivo, ali, uma atmosfera de felicidade amena, amuralhada por cumplicidades partilhadas. E ainda antes de partir, já o desejo de voltar embate no peito com uma força similar à do mar revoltado.

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