Mutações toleradas

10:17

Chegas até mim. Por telemóvel. E cada vez mais longínquo. São duas da manhã. Há quilómetros e quilómetros a separar-nos. Há as distâncias que deixámos crescer. A cada minuto, afirmam-se inquantificáveis e até mesmo injustificáveis.

O estado de espírito balança entre as promessas feitas e o consentimento do seu quase improvável cumprimento. Sei que não falharemos no essencial, mas no mais simples estamos a fazer como todos os outros.

Na verdade, fomos saindo da vida um do outro em pantufas e evitando fazer barulho. É que eu preferia mesmo ter ouvido a tua gargalhada antes de atravessares a porta. Isso obrigar-me-ia a puxar o eco dessa gargalhada para dentro.

Só que não fizemos barulho e, assim, terminaram as partilhas, os medos, as vontades, os desejos, as loucuras. Gostava que voltasses como foste um dia. Faz-me falta essa jovialidade, essa alegria descomprometida, esse ombro amigo de disponibilidade ilimitada.

Preciso de ti, mas não o assumo e tu sempre soubeste que remeto as minhas emoções para o mais violento dos silêncios. Enquanto as lágrimas não se soltam do coração vestido com armaduras de ferro, sei que não te vou deixar levar pelas vagas da vida.

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