Mais tarde, talvez

15:10

Um dia também vou querer ter tempo para segurar uma mão pequenina e olhar de cima para baixo, com desvelo.

Um dia vou querer gozar o sol que escorrega de um dia de Outono, sem pressas, no jardim dos elefantes.

Um dia vou poder inventar histórias na hora e colorir um mundo agreste só para te fazer acreditar no melhor.

Um dia vou querer voltar a correr atrás de uma bola para fazer jogadas brilhantes e coleccionar cromos para trocá-los contigo, sem ficar a perder.

Um dia vou desejar que me puxem o lençol e me arrastem até à televisão mais próxima para ver os desenhos animados nas manhãs do fim-de-semana.

Um dia vou estar a escrever e parar para ficar embevecido com alguma das tuas descobertas.

Um dia vou ser realmente muito paciente para ouvir e responder a perguntas básicas sobre algo que explorarás até ao limite de todos os detalhes.

Um dia vou sorrir com esse olhar espantado para as coisas que não percebes.

Um dia vou ter medo de não saber lidar com o choro interminável a meio da noite, porque isso sempre me afligiu.

Um dia vou conseguir ter tempo para te embalar com gratidão, mesmo quando o berço já tiver sido substituído pela cama.

Um dia vou empurrar-te no baloiço ao final da tarde e levar-te pela mão até casa.

Um dia vou querer olhar para a tua pequenez suja, esfarrapada e feliz, tentando ralhar, mas ficar-me-ei pelo ensaio.

Um dia quero ensinar-te a desenhar as primeiras letras, as do nome (que possivelmente te escolhi).

Um dia tomar-te-ei nos braços e sentir-me-ei privilegiado.

Puchette Escano

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