Declaração acintosa

04:47

Enervam-me os que alimentam os estereótipos, os que insistem neles e, sobretudo, os que abusam numa sobrevalorização da sua existência. Incomoda-me até ao tutano que se menospreze o sítio onde se está, que as depreciações sejam constantes e injustas até. Irrita-me perceber que algumas pessoas estão predispostas a cuspir (se necessário for) na identidade da qual descendem.

Concordo que o sentimento de acomodação é desprestigiante, mas defendo que isso não se pode cingir às barreiras territoriais. Os meus sonhos e a minha ambição não querem, simplesmente, conhecer essas fronteiras.

O impulso para dar o salto custa mais. É preciso mais luta e labuta. Exige controlar a falta de estímulos competitivos, compensando-a com brio pessoal e profissional. E como em qualquer lado, acumulam-se frustrações e desânimos, entremeados com alegrias e conquistas.

imagem retirada na Internet

Aborrece-me quem se refugia nos argumentos frívolos das mais-valias do litoral, da voga de oportunidades que por lá surge, do desenvolvimento social, etc., etc. E é entediante ouvi-los teorizar sobre realidades que desconhecem.

Perdoem-me a franqueza, mas eu aprendi muito mais neste meio, esquecido, desertificado. Sei que me tornei numa pessoa melhor do que se tivesse crescido em contentores empilhados onde reina a solidão e o individualismo, onde os pais não têm tempo nem disposição para estar com os filhos, onde os momentos de convívio social são para os flashes, onde o poder criativo sai lesado por esse stress e correria constante, onde a poluição ambiental se propaga às relações humanas.

Esteja onde estiver, respeito o que e quem encontro. Posso não gostar (e isso também o assumo!). Agora, não falo sem ter conhecimento de causa e jamais tomarei esses estereótipos como baluartes de subdesenvolvimento.

Aqui, posso não ter acesso a múltiplas lojas multicolores nem a uma panóplia de bens e serviços como, às vezes, gostaria. Pode não haver restaurantes e cafés para todos os gostos, espaços verdes com a dimensão justa, todo o tipo de transporte mesmo à porta de casa. Porém, que me importaria tudo isso se me sentisse desenraizada? Esses nunca serão motivos de força maior. E a ti, que te importa afinal ter tudo e sentires-te vazio?

A perguntas de retórica, silêncios confrangedores.

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