No sótão da saudade

06:45


Conheço-lhe bem cada recanto e sei onde dobrei as lembranças, onde encartei as dúvidas de outrora, onde encaixotei as angústias inconfessadas. Se quero encontrar algo, sei exactamente onde me dirigir.

E podem suceder-se os anos, pode assentar a poeira em camadas espessas, pode a janela abrir-se esporadicamente, pode a escuridão tomar conta do espaço. Sei que quando regressar, saberei onde me dirigir.

Sem enganos ou contratempos, haverá um reencontro (in)esperado com as memórias vivas das minhas origens, com os sustentáculos dos meus pilares ideológicos.

Sentar-me-ei ao canto e olharei ao redor. Barricada por livros, perscruto alguns objectos, adquiridos ou oferecidos. Cada qual é uma premissa inusitada para contextos recuados.

Lá estão também os cadernos das primeiras letras, os desenhos coloridos, os instrumentos desafinados, os acessórios em desuso, os jogos com as peças incompletas e gastas, os brinquedos abandonados, no fundo, os rascunhos da vida na véspera de se soltar para o mundo.

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