Ensaio sobre metamorfoses

03:50

Sinto a tua ausência mesmo quando estás ao meu lado. As palavras que proferes são como ecos propagados entre montanhas altas. A sombra fantasmagórica dos teus gestos faz-me teme-los, mesmo quando já muito os desejei.

Sinto o teu coração andrajoso, ao vento, caminhando como um refugiado sem ver a fronteira da paz. As letras agigantam-se e baloiçam nesse discurso desfalecido. Os sorrisos esforçam-se por desafiar a naturalidade. Em contraponto, a memória que tenho de ti desmente tudo, não te reconhece nem te aceita assim: acanhado, indolente e furtivo.

Sinto esse despojamento que te preenche e normaliza os traços distintivos do teu carácter. Pareces o jardim por onde passávamos quando a manhã se eclipsava. Creio que também ele, o parque, se deve sentir sozinho quando se vê enlaçado pela luz esquálida dos candeeiros esguios e enferrujados.

À noite, eu e tu parecemos um só. Sentimos um vazio ladeado pelas emoções congeladas. E o muro é tão alto que ninguém ousa escalar.

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