Indolências

17:46


Detesto quando os dias passam sem lhes sentir o pulso, sem horas para levantar ou comer, sem afazeres inadiáveis. Mantenho-me aqui, quieta e muda, indiferente ao tempo que faz do outro lado da janela ou à vida que se desenrola no mundo à minha volta.

Este jeito preguiçoso sacraliza os silêncios, os vazios e os atropelos emotivos. A pressa que se inventa depressa se anula pela certeza de que nada é urgente. A vontade desfalecida ignora os ditames do pensamento racional e deixa-se ficar, atolada numa passividade vagarosa.

Há apenas uma necessidade fremente, quase primordial: dormir. Gosto de o fazer quando a vida me morde, quando não quero pensar no que me preocupa, porque só o sono me faz um empréstimo sem juros de tranquilidade.

Não estou preocupada com o que me enregela o coração, mas sim com a ataraxia do meu corpo, aqui votado a um descanso que não necessita, abatido num drama ridículo, derrotado por uma circunstância pontual.

Detesto não ser eu, vendo a vida correr-me ao lado e, por preguiça, não lhe tomar o freio.

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