Reflexões natalícias

17:24

Já não se permite que a euforia tome de assalto o coração quando chega o momento de retirar os embrulhos à árvore de Natal. Os sapatos ficam nos pés e as mãos já não conseguem sentir ansiedade perante o que esconderá o papel colorido. Não se multiplica aquela expectativa de desembrulhar como antes.

Hoje, as prendas são todas de elevada (e pressuposta) utilidade, formatadas segundo o género, a idade e/ou as preferências. Abomina-se o que é simples, procurando-se as novidades da tecnologia, os avanços do conhecimento, as tendências, as modas que os anúncios publicitários nos impingem.

Embrenhados nos meandros dos circuitos comerciais, rejeitam-se levianamente todos os traços que sejam de diferenciação. É ainda preocupação primária garantir um talão de troca, sem preço, para assegurar o sucesso da empreitada.

imagem retirada da Internet

E nisto tudo, não sobram gestos para oferecer, desses que exigem tempo, dedicação, entrega, imaginação. É tão mais fácil, com uns trocos no bolso e o cartão de débito na carteira, espreitar as estantes e escolher um ou outro artefacto que, à partida, irá ao encontro dos interesses do destinatário. A essa lei do menor esforço na compra equivale a lei do contentamento conformado na recepção.  

E não há nisso nada de novo, nada de nós, nada que realmente seja personalizado. Por isso, não gosto de presentes sem graça, sem um toque pessoal, porque por mais ínfimo que ele seja, torna-os sempre intransmissíveis. Eu gosto é dos olhares saltitantes, da surpresa nos rostos, dos sorrisos alegres que brotam de dentro. Afinal, tal como alguém me escrevia neste Natal, se não houver o essencial, tudo o resto não passará de uma banal troca de embrulhos coloridos.

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