Cadeados frouxos

10:18

Semeei-a. Reguei-a. Cuidei dela. Vi-a crescer... Convenci-me, então, que era minha.

Fechei as portas para tornar o meu mundo interdito. Aliás, propriedade privada de poucos. Não deixei que ninguém ousasse vencer as fronteiras que ergui. E lembro-me de ter ficado irada quando houve intromissões.

Contemplava-a de perto, num misto de orgulho e confiança. Dali, provinha a segurança de não existirem variáveis.

Tinha essa determinação cega de preservar a vida a salvo dos olhares curiosos, dos inquiridores invejosos e, até, daqueles que gostavam muito de ti.

Ela acenava-me enérgica, persuadindo-me que estava no caminho certo.

A independência era uma constante no meu modo de ser. A ideia de depender da cooperação dos outros, da atenção alheia, dos afectos e dos cuidados parecia-me exagerada, a tocar mesmo o absurdo.

Ela não o desmentia. Antes, alimentava essa distorcida percepção.

Fui uma pessoa egoísta, ignorante das necessidades e negligente nos desejos. O meu tempo era sempre cronometrado e cada acção orientada para o cumprimento, célere e pleno, de objectivos traçados ou impostos.

Mais tarde, quase de improviso, percebi que, afinal, não era soberana dessa certeza.

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