Cafézinho costumeiro

16:49

De manhã, nunca tomo. Por hábito ou falta dele.

Não lhe aprecio o aroma, a textura, se é servido curto ou cheio, em chávena escaldada ou com gelo.

Basicamente, gosto dele como pretexto. A título dele, combinam-se encontros, marcam-se reuniões, travam-se contactos, aproximam-se pessoas.

Gosto dele por ser a evocação desse costume do início de tarde.

Na altura, era o passaporte para a libertação, para respirar fora do ambiente fúnebre, para uma conversa salutar, para percebermos que os nossos mundos tinham outros alcances, outros ideais e outras ideias para aquilo que os nossos olhos viam.

Enquanto a colher tocava nas paredes da chávena, desfiávamos histórias de tempos diferentes. Agora, à distância de alguns anos, sentimos a brisa da esplanada e temos mais gente à nossa volta. Contudo, o cafezinho depois do almoço, com direito a conversa adocicada e a partilha cúmplice, terá sempre o mesmo significado.

Talvez as palavras encontrem maior fluidez ou apenas o secreto reencontro com o passado comum e o mesmo olhar de futuro, feito de esperança e optimismo, norteado pelos princípios de sempre.

E aqui, aí ou noutro lado qualquer, o café terá esse travo intemporal.

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