É sempre Outono, nesse jardim...

07:29


Regresso aqui sem ti e pesa-me ainda mais a tua falta. Ficaram aqui, nestes bancos de um vermelho envelhecido, as nossas gargalhadas livres. Talvez para sempre. Embora ainda encontre os ecos, estão cada vez mais longínquos.

Era bom quando as inquietações, os desabafos, as lamúrias e as tristezas eram partilhadas de viva voz. Muitas das quais, aqui mesmo. Era bom quando tudo era selado com gargalhadas recíprocas. 

Não tenho saudades desse tempo que sentia como ingrato e injusto. Este que agora não vejo passar contigo também não me deixa saudades. Na pele, entranha-se uma secreta nostalgia presa a essa proximidade que as circunstâncias favoreciam. 

Lembro-me do sol se baloiçar nestas árvores centenárias e de termos os suspeitos do costume debaixo de olho. Lembro-me das folhas no chão como das lágrimas da alma.

Continuam por cá os velhos e os pombos. Os bancos, com solitários sós ou aos pares, estão mais gastos. Já não se houve a água a cair nem aquele silêncio outonal.

Neste banco em que agora me sento, sinto-me também uma solitária só, porque não estás aqui para somarmos os vazios que ninguém deixou. Faltas tu, sem maquilhagem, com a testa menos enrugada e ainda com a esperança integral em dias melhores. 

E sinto, sobretudo, falta dos meus olhos quando te viam assim.

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