Pela calçada

16:01

A chuva cai copiosamente. Está frio nesta rua de passeios enegrecidos. As pessoas acotovelam-se, carregadas de sacos numa mão e de guarda-chuva na outra. Caminham munidas de sobretudos. Esperam que os sinais mudem para atravessar a estrada. Consultam o telemóvel insistentemente. Olham para o outro lado, esperam sem o ver.

A chuva não dá tréguas. Um grupo de amigas fecha quase em simultâneo os guarda-chuvas e entra na pastelaria.  Extravasa aquele cheiro adocicado e a atmosfera quente. Ele fica à porta, prostrado e de pés à mostra sobre um cartão gasto. Aquele pequeno corpo moreno vive nessa indiferença de quem entra e sai sem sequer se sentir perturbado por aqueles pés sujos e gelados.

A chuva cai ferozmente. Quase às portas do Natal, apressam-se os consumistas desvairados. Os lojistas aliciam-nos com cartazes a anunciar promoções. Parecem todos anestesiados por esse furor irracional. Ninguém reclama dos charcos de água no alcatrão que, à passagem dos carros, deixam vestígios nas botas. Eles não reclamam do frio porque, na verdade, não andam descalços.


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