Fala comigo

08:57

Amarelecidas e cansadas, as folhas despedem-se dos ramos esqueléticos da árvore. Algumas formam um tapete com remendos cinzentos à volta do tronco, outras espalham-se por esse banco solitário. Vejo-te ao longe e deixo-me ficar a apreciar a cadência dos teus passos.

Quando te aproximas, leio-te a mágoa causada pela minha ausência. Sorrio, a medo. E vejo-te debruçar o olhar mansamente triste sobre o lago. Pressinto a nossa cumplicidade minada por vazios.

Passam patos em fila indiana. Assistimos ao desfile ocasional, em silêncio. A água revolvida acalma-se. Vejo os teus antebraços sobre o gradeamento reflectidos na água. O perfume do teu cabelo liso não é o mesmo. Permanecemos petrificados e mudos.

Suplico, em tom sumido: "Fala comigo".

Esqueces, então, que pertences a um lugar, que és feita de dores vivas, que deixas de aceitar e compreender, para assumir que queres fugir dessa frustração. Vejo-te desaparecer nessa incursão aos fantasmas de dramas futuros.

E deixo que mergulhes essa angústia abafada no estertor de abraços frívolos.

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