(Des)Troca

10:27

Um olhar de desdém, no expoente máximo da sua temperatura de cor. Profundo, incisivo, severo. Um olhar que não mostrava nem mágoa nem tristeza nem dor. Um olhar que revelava apenas uma tola decepção. Um olhar perpetrante, sem medo das alegações finais. Um olhar de mera revolta fútil. 

Do outro lado, um sorriso tímido a disfarçar o desconforto, a mendigar misericórdia a esse olhar altivo e atroz. A incredulidade perante a impassibilidade, ambas desnudadas. Enquanto eles, absortos, mediam as distâncias, brotavam um silêncio maculado entre a plateia.


No dia em que os olhos de um encararam os do outro, espreitando-se por dentro, bem devagar, houve apenas uma troca sincera. Transposta a soleira da timidez, as suas almas reconheceram-se nas fachadas dos medos, nas sombras dos desejos, nas entrelinhas da paixão.

Desde então, os gestos eram moldados para causar alegrias sísmicas. As palavras destrocadas para encaixarem no sentido perfeito. As entregas de coração para conquistar esse sorriso completo. Mas, neste instante desfalecido, só o olhar gélido faz a reviravolta do que está para trás.

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