Sereno azul

15:13

Os olhos claros, de um azul cor de mar, eram pequeninos e rodeados de rugas. Os seus olhos brilhavam mais ainda quando falava dos filhos. Tinha três, dispersos pelo mundo. Tinha orgulho do que faziam e contava os sacrifícios que, em tempos, teve de fazer para que eles continuassem a estudar.

Agora que os dias não tinham sobressaltos, sorria serenamente ao recuperar essas memórias. Tinha de percorrer grandes distâncias a pé e viu-se até obrigada a mudar de cidade para que não desistissem dos estudos. O marido emigrou, regressou, ajudou a cuidar, amou-a por tudo.

Depois, o sorriso abriu-se quando falou dos netos e das viagens que a levaram ao Brasil e a Espanha para assistir às cerimónias de conclusão dos seus cursos. Já os bisnetos confundem-se nas contas. Avança com um número que acaba por corrigir logo a seguir.

Nesta casa de velhices assistidas, vive com outros mais debilitados do que ela, mas a opção foi sua e garante ter sido a mais acertada. Elogia a atenção e o carinho que lhes chega das funcionárias e não fala das saudades que sente quando chega ao quarto que não partilha e não encontra as mãos do marido a enlaçá-la.

Afastamo-nos para prosseguir caminhos perpendiculares. Fico a pensar nesse encontro casual. Nunca mais verei aquele rosto, mas jamais esquecerei a serenidade daqueles olhos azuis cor de mar.

Imagem retirada da Internet

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