Comprometimento

16:30

Sim, fica prometido. Um dia vou levar-te a todos os baloiços suspensos, que estão entregues às carícias do vento ou à imobilidade total. Talvez não passem de infraestruturas de diversão obsoletas e solitárias, mas, nesse futuro que havemos de viver, não ficarão imunes às traquinices. 


Um dia, vou empurrar-te sem que tu me peças, pois sei bem o bom que era sentir-me a tomar balanço quando as pontas das minhas sapatilhas mal tocavam o chão. Sei que não haverá disputas para ganhares a vez (ou talvez a minha profecia possa vir a revelar-se errada).

Um dia, vou entregar-te uma bola nova e ensinar-te-ei a dominá-la com os pés. Jogaremos em campos improvisados, com linhas imaginárias, pedras sobrepostas a fazer as vezes de postes das balizas. Não haverá lances polémicos nem jogadas de má-fé. Sim, vou deixar-te correr e saltar e brincar e rir. 

Vou proibir que te aninhes no sofá antes do teu corpo se sentir extenuado. Vou proibir-te de ficares horas em frente à televisão (à excepção dos desenhos animados nas manhãs do fim-de-semana) ou de pedinchares um telemóvel (ou a tecnologia em vigor na altura) porque "toda a gente tem".

Quero que cresças a pular na rua, a andar de bicicleta pelo bairro, a jogar à bola com os vizinhos, a festejar os aniversários em garagens e não em restaurantes de fast food. Vou levar-te aos sítios da minha infância e deixar-te conviver com aqueles que me ensinaram a crescer feliz. 

Sim, vou permitir que explores os meus brinquedos, os meus livros, os meus cd's e todos os outros objectos que nunca saberão contar os anos que têm. Talvez venhas a achar tudo demasiado antiquado ou, às tantas, até encontrarás algum interesse em coisas tão diferentes das do teu tempo. 

Ensinar-te-ei a brincar com os legos, a construir vidas imaginárias para os bonecos que segurares nas mãos, a teres um peluche de estimação. Talvez venhas a ter um amigo imaginário (como eu) e vou lembrar-me de como a minha mãe, ainda hoje, recupera esses episódios para saber como nunca me esquecer dos teus.

Um dia, vou proteger-te dessa indiferença mundana. Vou mostrar-te que é simpático cumprimentar as pessoas na rua, com "bom dia" ou "boa tarde", especialmente quando forem velhinhos. Vou mostrar-te como é importante conhecer os vizinhos do prédio e os da frente. Vou ensinar-te a partilhar com quem precisa e a respeitar os outros, principalmente os que forem diferentes de ti.

Um dia, vou deixar de te carregar ao colo para te passar a dar a mão até ao dia em que te verei caminhar pelo próprio pé e sem amparos.

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