Garanto-vos que isto não é mentira!

07:25

Em Dia das Mentiras seria tolerável que este post vos enganasse. Apesar do assunto ser "a mentira", não é “peta”. Na edição desta semana, da revista “Nova Gente”, encontrei uma reportagem que nos alerta para o facto da mentira (além da sua inerente gravidade e reprovação social) ser uma patologia grave.

Mentir é algo comum a todos os seres humanos, não há ninguém que nunca o tenha feito na vida. Porém, a mentira pode ser também uma doença. Neste último caso, a pessoa – o mitómano – não reconhece que mente e, ainda, acredita fielmente na veracidade das suas mentiras.


Classificação das mentiras, segundo a psicóloga Ema Alves:

Mentira utilitária: é uma forma de esconder a realidade que o indivíduo utiliza para não sair lesado numa determinada situação; usada, com frequência, nas várias situações da vida social. “É geralmente inofensiva, mas pode ter consequências graves se for o sistema de comunicação instituído no seio, por exemplo, de uma família.
Mentira compensatória: está ao serviço da inserção social, mantendo a imagem que a pessoa tem perante os outros. “É muito usada pelos adolescentes para não se sentirem desajustados da realidade dos seus colegas.
Mentira mitómana: é uma dependência inconsciente; a pessoa que a profere acredita nela, é um tipo de mentira bastante elaborada. “É uma psicopatologia que precisa de acompanhamento psicológico.


Há várias razões que nos levam a mentir. A psicóloga Ema Alves enumera as três motivações mais frequentes: “insegurança, receio das consequências da verdade e factores patológicos”. A mentira é utilizada “para preservar algo que não nos interessa partilhar com os outros, porque está associado ao nosso lado íntimo, mas também o podemos fazer para prejudicar alguém”, explica a psicóloga. Assim, em determinados contextos a mentira acaba por ser um mecanismo de auto-defesa, “um recurso para enfrentar problemas” (Ema Alves).
Quando há carências afectivas e/ou materiais, as crianças e adolescentes tendem a mentir para os outros, de forma a diminuir o seu desajuste à realidade. Esta situação é problemática quando as crianças e adolescentes começam a acreditar nas suas próprias mentiras.

Os adultos ensinam às crianças que não se deve mentir, no entanto, são os primeiros a fazê-lo, desapontando os filhos”(Ema Alves),. É verdade que, muitas vezes, os objectivos das mentiras, pronunciadas pelos progenitores, são fundamentados na protecção das crianças face à realidade ou no sentido de aumentarem o seu nível de auto-estima. Por exemplo: uso de eufemismos aquando da morte de um ente querido; a existência do Pai Natal; “a figura do ‘papão’, invocada sempre que os miúdos se portam mal” etc.

Se se observar com atenção a expressão facial, o tom de voz, a linguagem corporal e outros elementos da comunicação não verbal, pode detectar-se um mentiroso vulgar e, quanto melhor se conhecer a pessoa, mais facilmente se percepcionam estes sinais.
Uma vez que o corpo pode atraiçoar o mentiroso, aqui ficam alguns sinais corporais que podem denunciar uma mentira: piscar os olhos e não olhar para a pessoa com quem se está a falar; pedir para repetir uma pergunta que já foi feita; gaguejar; morder os lábios; coçar os braços; fazer pausas frequentes no discurso; executar movimentos expansivos dos braços; etc.

Contudo, existem pessoas verdadeiramente exímias a mentir. Daí que a mentira seja um alvo de particular interesse da ciência forense. Um dos instrumentos utilizados para detectar mentiras é o polígrafo, cuja eficácia não ultrapassa os 90%. Mas os aparelhos deste tipo apresentam como principal entrave à sua utilização “o facto de não revelarem a mentira, mas sim sinais emotivos [como os batimentos cardíacos, o ritmo da respiração, os níveis de transpiração, etc.] que tendem a aumentar quando as pessoas estão nervosas, o que acontece quase sempre quando estão submetidas a este método. Mesmo que estejam inocentes”.


Em 1928, Artur Alves dos Reis foi o responsável por uma das maiores burlas de Portugal. “Reproduziu mais de 500 000 notas de 500 escudos, conseguindo copiar as assinaturas do governador e do vice-governador do Banco de Portugal” e, em 1938, Orson Welles, foi o responsável pela “Guerra dos Mundos”, quando, aos microfones da rádio, simulou uma invasão de marcianos à cidade de Nova Jérsia. “O relato foi tão real que a população ficou em pânico e houve mesmo quem tentasse suicidar-se.”.
Estes dois episódios são apenas dos exemplos de que as mentiras também escreveram a História.

A Verdade da Mentira” (1994), filme protagonizado por Arnold Schwarzenegger; “Mentiroso Compulsivo” (1997), cujo protagonismo cabe a Jim Carrey e o filme “Apanha-me se puderes” (2002), protagonizado por Leonardo DiCaprio, são apenas algumas das produções cinematográficas que se destacam pelo uso da mentira como argumento.

A nível de literatura, sugiro que leiam a comédia de Almeida Garrett: “Falar Verdade a Mentir”.

Lembrem-se que “a mentira é tanto mais grave quanto mais repetida e elaborada for” (in “Nova Gente”), mas todas as mentiras têm algo de censurável e, por vezes, as piores mentiras são, sem dúvida, aquelas que se pronunciam no silêncio. Excepcionalmente hoje, mintam à vontade, mintam por todos os outros dias do ano em que não o devem fazer, pois, neste primeiro dia de Abril, pouca gente vos levará a sério!

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