O que os números escondem

03:20

«Não sei se é impressão apenas, mas tenho para mim que nas faculdades há dois tipos de pessoas: os que fazem por sobressair e os números. Os números existem para que haja diferenciação quando saem as notas, para que haja diferenciação no pagamento das propinas. Um número mora anos e anos num mesmo local e no dia da sua saída permanece para muitos isso apenas: um número. Faz-me confusão a quantidade de números com talento que se perdem dia a dia, ano após ano, porque ninguém tem a capacidade de ver almas em números.»

Este é um excerto do texto “UP, números e a insustentável leveza dos sonhos”, escrito por Francisco Fardilha, na secção “5º Elemento” da edição deste mês do Jornal da Universidade do Porto (JUP). Gostei particularmente destas palavras.

De facto, os números em pautas não medem as competências e as qualidades do estudante com o rigor e com a igualdade de critérios que tanto se apregoa. Há pessoas (muitas infelizmente) que se fazem notar a todo o custo, sem olhar a meios, para ocupar um falso lugar de reconhecimento e mérito, sem que tenham realmente aptidões para tal. Paralelamente, há muitos talentos que passam despercebidos ou que chegam mesmo a ser menosprezados.

Para todos os estudantes (com especial destaque para os do ensino superior):

Há coisas que ninguém fará por nós que se resumem a acreditar nas nossas capacidades; a dar o nosso melhor mesmo que não venha a ser devidamente valorizado; a construir os nossos sonhos, mesmo que as portas se fechem na nossa cara (pois há sempre uma chave de segurança).
Em dias de trabalho intenso e não tanto produtivo como se previa, não desanimem! Sejam firmes nas vossas convicções, nas vocações que procuram confirmar, na motivação de querer ir mais além do que se pensava ser capaz.
Mas o mais importante é não esmorecer quando um número não corresponde ao esforço empreendido.

Infelizmente o que vigora, nos dias de hoje, são apenas números... Muitos deles são atribuídos à toa, em condições de desigualdade, seja por simpatias ou por cunhas - é o velho “sistema” do ensino, onde reina uma injustiça tal que nem os melhores juristas seriam capazes de pôr termo.
São também estes números que fazem cair por terra muitos dos sonhos que alimentámos no nosso íntimo, acalentámos com o nosso sacrifício e acreditámos conseguir concretizá-los…

Ninguém tem o direito de destruir os sonhos de alguém! E se um número o fizer: não se conformem, reivindiquem, lutem, não deixem de sonhar e de acreditar na força da determinação. Porque na Universidade, como na vida, há dois tipos de pessoas: as que têm sorte, como sendo algo inato, e as que têm que fazer por ela. Estas últimas não desistem dos seus sonhos e perseguem-nos com tenacidade; conseguem perder com dignidade (nunca sem antes terem tentado vencer), renovar energias e continuar a sonhar.

«Desenganem-se aqueles que crêem que “amor” é a palavra mais bonita do mundo. Para mim, esse lugar é ocupado por um verbo chamado “sonhar”. São os sonhos que alicerçam e dão sentido às vidas. O amor fá-las crescer. Os sonhos não são egoístas. Não são de quem os cria. São de quem não os deixa morrer.
(…)
Aprecio os vencedores. Mas valorizo imensamente mais os vencidos que ousaram sonhar. Ser feliz não é um sonho. É uma meta. Ser feliz não é casar, ter filhos e plantar uma árvore. É ter em si a capacidade de sonhar. Mais ainda, a capacidade de fazer os outros sonhar.
» (Francisco Fardilha, in JUP)

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