Analogia singela

15:09

Há balões pelo chão. Há balões nas paredes. Há balões que pendem do tecto. Há balões que rebentam com o excesso de ar. Há balões que rebentam sozinhos, sem motivo visível. Há balões que se esvaziam. Há balões de muitas cores e feitios. Há balões que se prendem ao pulso das crianças. Há balões que os vendedores prendem às suas mãos. Há balões que se soltam e nunca mais voltam, perdendo-se no azul infinito. Há balões e há pessoas.
Há pessoas que varrem o chão que outras pisam, sacrificando o seu livre-arbítrio para ser um qualquer balão. Há pessoas que estancaram em si mesmas, ficaram pregadas no tédio da existência, emolduradas em fotografias que preenchem painéis de paredes alheias. Há pessoas que sobrevivem à custa das outras – são os verdadeiros parasitas sociais, espirituais, etc. Há pessoas que se saturam com a abundância do supérfluo e escapam desse excesso cativo. Há quem perceba as suas razões, há quem não as perceba e há quem finja não as perceber, recusando-se conscientemente a aceitar o que é óbvio. Há pessoas cuja existência se esvazia de sentido, porque deixaram de sonhar, de acreditar, de lutar, abdicando gradualmente de tudo, por impotência, conformismo, passividade, comodismo ou porque não tiveram capacidade e coragem para arriscar. Cada pessoa tem a sua personalidade que faz com que se distinga de todas as outras. Entre as pessoas semelhantes criam-se afinidades e entre pessoas diferentes criam-se complementaridades. As pessoas que nunca deixaram de ser crianças, a maior parte do tempo, trazem consigo o brilho do entusiasmo nos olhos, a alegria e a ingenuidade das descobertas diárias, a inocência que deixa ver a verdadeira beleza da vida. As pessoas que rejeitam essa criança interior tornam-se amargas e revoltadas, angustiadas e frustradas, a maior parte do tempo. Há pessoas que vigiam a liberdade de outras, ao ponto de decidirem por elas, de acordo com intuitos egoístas, materialistas, preconceituosos e repressores. Há pessoas para as quais o único limite é o céu, por isso soltam as amarras que as prendem a hábitos, a estereótipos, a linhas traçadas, a caminhos pisados e ousam, portanto, voar com asas débeis e raramente regressam ao ninho que as viu nascer. De facto, apenas as pessoas que se transformam em balões que se soltam é que me levam a dizer que não é um desperdício quando há largadas de balões, que salpicam os céus de variadíssimas cores.
Na vida, tal como numa festa, todas as pessoas fazem falta: para aprender, para conhecer e para decidir a que categoria se quer pertencer (ou à qual se pertence); e todos os balões geram uma harmonia colorida num qualquer espaço, despertam desejos de posse nas crianças, suscitam uma contemplação distraída e fugidia em gente mais crescidinha.

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