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Há coisas tão pessoais, tão intrinsecamente nossas, que não é de todo fácil partilhá-las, por mais confiança que se tenha noutra pessoa. São factos relativos à nossa história pessoal, intraduzíveis para um fundo de significação comum. São aspectos misteriosos da nossa personalidade, inacessíveis aos outros. São os nossos segredos e os nossos sentimentos mais íntimos que fazem com que quando nos perguntam o que não queremos, não consigamos responder. Nessa altura, acabamos por mentir, distorcer a realidade, para salvaguardar aquilo que é nosso e só nosso! Ás vezes, é embaraçoso lidar com um silêncio súbito de alguém, mas temos que contar com a possibilidade de se instalar algo que, de repente, escapa à nossa compreensão.
O mesmo acontece com determinados objectos. Pode até ser algo de egoísta, mas há coisas que não gostamos, não queremos e, principalmente, não conseguimos partilhar. Pensem nas fotografias que estão no fundo de caixas de papel, nas quais não deixamos que toquem, mesmo que seja com o pretexto de limpar e arrumar. Pensem nas cartas que espalham no chão do vosso quarto e que arrumam à pressa quando pressentem a aproximação de alguém. Pensem ainda no vosso peluche preferido do qual são incapazes de abdicar, ainda que ele esteja abandonado a um canto, etc. São objectos com um excesso de significado para nós que torna ininteligível aos outros o facto de não os emprestarmos, oferecermos e/ou mostrarmos.
É impossível dizer ou explicar o porquê de fazermos isto ou aquilo, a razão de não conseguirmos contar algo sobre nós… tudo para evitar deixar o nosso passado e o nosso “eu” a descoberto. E não há nada de repreensível nisso!

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