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Ontem posso ter sido injusta contigo. Hoje, que reconheço o meu erro, não me apetece mostrar-te o meu arrependimento. Amanhã serei incapaz de te pedir desculpas. Os anos suceder-se-ão num silêncio e distanciamento crescente ao ponto do desconhecimento do que fomos um dia um para o outro. Um dia vamos cruzar-nos… e será que nos reconheceremos?
Ambos sabemos que não é fácil lidar com choques de personalidades idênticas à nossa. Agora sabemos também, porque sentimos os seus danos colaterais, que isso pode desencadear uma repulsa e um contra-senso que tem como base a nossa recusa de algo que não gostamos nos outros e que é, também, uma característica imanente a nós próprios e que não aceitamos como nossa.
Eu identifiquei as minhas falhas com mais dificuldade do que apontei as tuas. Não é fácil viver pacificamente com uma situação que nos causa uma instabilidade que nos perturba as noites de sono, um mal-estar que faz com que o pôr-do-sol nos incomode... Penso que também te tenhas dado a um trabalho de reflexão semelhante, depois daquela ruptura evitável.
Tu sabes que eu estarei sempre aqui para ti como sempre fui um dia: a impulsiva, a determinada, a irreverente, a persistente, a sonhadora. Sei que, passe o tempo que passar, quando te vir vou ver-te, à distância de longos anos sem contacto, como o rebelde inconsequente, o irresponsável moderado, o baluarte da liberdade, o desdenhoso dos preceitos, o sonhador temperamental.
Hoje preciso de fechar os olhos e ter-te mais uma vez, aqui, antes de tudo o que se passou…

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