Sobre o Jornalismo
09:06Hoje vou deixar-vos com a perspectiva de Eça de Queiroz sobre a actividade jornalística, cuja importância é incontestável em qualquer sociedade, de qualquer tempo.
"O jornalismo, na sua justa e verdadeira atitude, seria a intervenção permanente do país na sua própria vida política, moral, religiosa, literária e individual.
Mas esta intervenção nos factos, nas ideias, para ser fecunda, elevada, para ter um carácter de utilidade pública, e largas vistas sociais, deve ser preparada pela discussão, e pelo esclarecimento da direcção governativa, do estado geral dos espíritos, do vigor das consciências, da situação pública, da virtude das leis.
É o grande dever do jornalismo, fazer conhecer o estado das cousas públicas, ensinar ao povo os seus direitos e as garantias da sua segurança, estar atento às atitudes que toma a política estrangeira, protestar com justa violência contra os actos culposos, frouxos, ou nocivos, velar pelo poder interior da pátria, pela grandeza moral, intelectual e material em presença das outras nações, pelo progresso que fazem os espíritos, pela conservação da justiça, pelo respeito do direito, da família, do trabalho, pelo melhoramento das classes infelizes. (…)
O jornalismo não sabe que há o abatimento moral, o cansaço, a fadiga, o repouso. Se ele repousasse, quem velaria pelos que dormem? (…)
Há homens, há trabalhadores de ideias, filósofos, que fazem o mesmo áspero trabalho incessante: mas esses têm glória, que é como um bálsamo divino, derramado nos seus cansaços.
O jornalista não: trabalha, luta, derrama ideias, sistemas, filosofias sociais e populares, estudos refletidos, improvisações, defesas eloquentes, nobres ataques da palavra e da ideia: pois bem, tudo isso passa, morre, esquece; aquela folha delgada e leve, onde ele põe o seu espírito, a sua ideia, a sua consciência, a sua alma, perde-se, desaparece, some-se sem esperanças de vida, de duração, de imortalidade, como uma folha de árvore ou como um trapo arremessado ao monturo. (…)
O jornalismo não deve ser sempre a expressão mais ou menos real das ideias recebidas: ele não é somente o arquivo da opinião moderna: a repercussão d’uma impressão geral: ele, é o motor dos espíritos, descobre novas e fecundas relações sociais entre os povos dum mesmo continente; ele consagra e robustece a solidariedade moral que liga os homens, a fraternidade que os prende: o jornalismo ensina, professa: alumia sobretudo: ele é o grande construidor do futuro: não é só o facto d’hoje que o prende - isso é o menos: é o facto que o futuro contem: ele vai das relações presentes às relações futuras e mostra a revolução lenta , serena, imensa , pela qual a humanidade transforma e refaz o seu destino no sentido da justiça.
É por isso que ele contradiz muitas vezes a opinião recebida: e com razão; nem sempre a grande massa tem a consciência do bem, do direito e da sua verdadeira razão: é necessário que o jornalismo a esclareça, que a avise quando ela se transviar, que a sustenha , quando ela for a cair. (…)"
Mas esta intervenção nos factos, nas ideias, para ser fecunda, elevada, para ter um carácter de utilidade pública, e largas vistas sociais, deve ser preparada pela discussão, e pelo esclarecimento da direcção governativa, do estado geral dos espíritos, do vigor das consciências, da situação pública, da virtude das leis.
É o grande dever do jornalismo, fazer conhecer o estado das cousas públicas, ensinar ao povo os seus direitos e as garantias da sua segurança, estar atento às atitudes que toma a política estrangeira, protestar com justa violência contra os actos culposos, frouxos, ou nocivos, velar pelo poder interior da pátria, pela grandeza moral, intelectual e material em presença das outras nações, pelo progresso que fazem os espíritos, pela conservação da justiça, pelo respeito do direito, da família, do trabalho, pelo melhoramento das classes infelizes. (…)
O jornalismo não sabe que há o abatimento moral, o cansaço, a fadiga, o repouso. Se ele repousasse, quem velaria pelos que dormem? (…)
Há homens, há trabalhadores de ideias, filósofos, que fazem o mesmo áspero trabalho incessante: mas esses têm glória, que é como um bálsamo divino, derramado nos seus cansaços.
O jornalista não: trabalha, luta, derrama ideias, sistemas, filosofias sociais e populares, estudos refletidos, improvisações, defesas eloquentes, nobres ataques da palavra e da ideia: pois bem, tudo isso passa, morre, esquece; aquela folha delgada e leve, onde ele põe o seu espírito, a sua ideia, a sua consciência, a sua alma, perde-se, desaparece, some-se sem esperanças de vida, de duração, de imortalidade, como uma folha de árvore ou como um trapo arremessado ao monturo. (…)
O jornalismo não deve ser sempre a expressão mais ou menos real das ideias recebidas: ele não é somente o arquivo da opinião moderna: a repercussão d’uma impressão geral: ele, é o motor dos espíritos, descobre novas e fecundas relações sociais entre os povos dum mesmo continente; ele consagra e robustece a solidariedade moral que liga os homens, a fraternidade que os prende: o jornalismo ensina, professa: alumia sobretudo: ele é o grande construidor do futuro: não é só o facto d’hoje que o prende - isso é o menos: é o facto que o futuro contem: ele vai das relações presentes às relações futuras e mostra a revolução lenta , serena, imensa , pela qual a humanidade transforma e refaz o seu destino no sentido da justiça.
É por isso que ele contradiz muitas vezes a opinião recebida: e com razão; nem sempre a grande massa tem a consciência do bem, do direito e da sua verdadeira razão: é necessário que o jornalismo a esclareça, que a avise quando ela se transviar, que a sustenha , quando ela for a cair. (…)"
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