Este poderia ser o teu retrato hoje

16:00

Um final de tarde quente e abafado, arrefecido subtilmente por uma brisa. Um banco desocupado neste jardim povoado, que te espera.
Uma expressão aborrecida e entediada. Uma calma interior incompleta. Um livro novo numas mãos velhas. O cabelo branco arrasta-se sobre a cara de tez morena. O olhar apagado, perdido na densidade do intelecto. O pensamento concentrado num qualquer vazio opaco. Os restos da energia reflectidos nas rugas do teu rosto. A fraqueza das tuas pernas denuncia o cansaço da caminhada. Queres transcender o tempo para te puderes fundir nele. Tantas histórias que tens para contar. Tantos ouvidos de ninguém para as escutar.
Soam vozes familiares na distância. Pessoas desconhecidas que se afastam. Pés que pisam a relva. Absorto em ti, contemplas as maratonas de alta competição: nos céus, os pássaros correm sem metas, uns ao lado dos outros; na terra, os homens esvoaçam uns sobre os outros, igualmente sem metas…

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