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«É das brasas e não do fogo que o calor mais forte se liberta e invade o ar. Ao contrário das chamas, demora muito mais tempo a extinguir-se e continua vivo, mesmo sem vestígios aparentes. E reacende do nada, sem se dar por isso. (…) Enquanto não perceber porque é que a nossa relação se esfumou sem ressuscitar das cinzas, acho que não conseguirei ter descanso; talvez a grande lição a tirar seja a de aceitar que aquilo que tomei como certo e permanente na minha vida é muito raro e, mesmo quando existe, é apenas temporário. A mudança das estações é a mudança do planeta, tão inevitável como a rotação da terra. Tudo muda e a mudança é alheia à nossa vontade, e nós também temos que mudar. Porque se isso não acontecer, não nos conseguiremos adaptar e o sofrimento será ainda maior.»

Escolhi esta passagem do mais recente romance da escritora Margarida Rebelo Pinto, “Pessoas como nós”, porque foi a que mais gostei. O livro não me conseguiu surpreender ou seduzir como esperava, mas valeu a pena lê-lo para descobrir estas palavras brilhantemente combinadas para criar uma imagem que nos enche o cérebro de pensamentos vários e absortos.
Às vezes, o melhor é desejar que as brasas encobertas por uma cinza espessa não se reacendam, o mais desejável é apagá-las definitivamente. Não adianta questionarmos o que nos acontece (porque a maior parte das vezes é independente da nossa vontade) nem procurar justificações que são inefáveis ao entendimento humano. Não serve de nada forçar respostas que só alimentam a inquietação do nosso espírito. Por isso, a adaptação à mudança é a melhor solução para nos poupar a excedentes de sofrimento. Não me resta acrescentar mais nada a estas palavras.

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