Um miúdo adormecido no metro

10:43

Sentou-se no banco à minha frente e desde que o vi entrar à pressa, perante a ameaça da porta fechar, de mão dada com o tio, criei uma empatia rápida pelo miúdo de tez clara e olhos castanho-escuro. Ostentava um sorriso sacana e uma alegria enfraquecida pela aproximação do sono.
Tiveram que o sentar e olhou, curioso, a distância dos seus pés ao chão. Desenhou com os dedos sujos um qualquer objecto no vidro; uma abstracção significativa para ele porque apontou-a e exibiu-a orgulhosamente. Depois recostou-se, sob o olhar atento do tio, e os seus olhos pestanejaram algumas vezes antes de se fecharem. Adormeceu sem resistência.
E, assim, adormecido, frágil, desprotegido, provocou-se uma sensação de calafrio de pensar que o podiam abandonar ali, sem dificuldades, sem contrições da consciência, sem terem que ver o seu despertar sobressaltado por não saber onde estava, não perceber que estava sozinho, as lágrimas a bailarem nos olhos, os movimentos da cabeça a olhar para todos os lados, na ânsia de identificar algo familiar. Percebi que isso não iria acontecer. Vi o teu tio segurar-te, encostar o teu corpo pequenito contra o peito e proteger o teu sono com ternura.

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