Foste “apanhada”
08:26Notei a tua revolta, que imediatamente controlaste. Percebi as lágrimas nos teus olhos, uma inspiração prolongada, um pestanejar ligeiro e o retomar da tua impassibilidade característica. Acho que te apeteceu berrar, contudo as tuas palavras roçaram o tom da resignação.
De facto, não é fácil alguém perceber qual é o teu estado de espírito. Podes não ser mais nada na vida, mas finges muito bem... Sei que nem tens a noção que o fazes e das dimensões que isso alcança; sei que não é propositado, mas não consegues evitar, talvez nem tentes. Vais acabar mal, porque todos os outros te vão magoar e nunca vão perceber que o fizeram, porque tu não és como as outras pessoas, não recriminas ninguém, não acusas ninguém por mais reais e válidos que sejam os argumentos, não exiges as explicações que mereces. Esse estoicismo não vai fazer de ti uma heroína, mas fica-te bem, distingue-te.
Após o episódio que desencadeou esta minha observação mais incisiva, voltaste costas e foste refugiar-te na tua solidão. Procuraste o teu porto de abrigo de outrora… Só que perdeste as chaves e nem sequer podes entrar pela janela uma vez que está trancada.
Aposto que assim que te viste sozinha, num lugar isolado, choraste muito para expulsar as mágoas que, embora não se acumulem na tua alma, deixam as suas marcas na tua voz. O teu rosto sentirá as lágrimas frias rolarem sem prazo e data para parar… O silêncio registará os soluços de quem, a toda a força, tenta controlar o indomável. Nessas alturas, digo eu que deves sentir a falta de um abraço, de uma voz que fale os teus códigos, de alguém que perceba que a tua aparente auto-suficiência não é mais do que um mecanismo de auto-defesa que te permite lidar pacificamente com os outros, com as coisas supérfluas ou mais profundas, com o mundo em geral… Pedes emprestada uma armadura de impermeabilidade faça a tudo e a todos, só que não a sabes utilizar, simplesmente porque não és capaz de não te deixar envolver.
Todos te procuram para que os ajudes quando eles precisam, mas poucos se preocupam em tentar verificar se tu precisas que eles façam o mesmo; alguns que se lembram de ti para descarregar a sua frustração com o mundo e tu arquiva-la e junta-la à tua (que é mais sossegada e recatada); outros que te incomodam porque lhes podes ser útil de uma ou de outra forma, mas não se interessam em te pagar com menosprezo como moeda de troca… Se não contivesses tantas sensações, se não encobrisses tanto os teus sentimentos, talvez a tua serenidade não fosse tão cativante.
Ouvi-te soltar um suspiro antes de te esconderes em ti, antes de te afundares no teu íntimo, mas foi demasiado subtil, e acompanhado de um abanar da cabeça em sentido de negação. É essa atitude de encolher os ombros face ao que te acontece ou que deixas que aconteça que vai acabar por te destruir.
De facto, não é fácil alguém perceber qual é o teu estado de espírito. Podes não ser mais nada na vida, mas finges muito bem... Sei que nem tens a noção que o fazes e das dimensões que isso alcança; sei que não é propositado, mas não consegues evitar, talvez nem tentes. Vais acabar mal, porque todos os outros te vão magoar e nunca vão perceber que o fizeram, porque tu não és como as outras pessoas, não recriminas ninguém, não acusas ninguém por mais reais e válidos que sejam os argumentos, não exiges as explicações que mereces. Esse estoicismo não vai fazer de ti uma heroína, mas fica-te bem, distingue-te.
Após o episódio que desencadeou esta minha observação mais incisiva, voltaste costas e foste refugiar-te na tua solidão. Procuraste o teu porto de abrigo de outrora… Só que perdeste as chaves e nem sequer podes entrar pela janela uma vez que está trancada.
Aposto que assim que te viste sozinha, num lugar isolado, choraste muito para expulsar as mágoas que, embora não se acumulem na tua alma, deixam as suas marcas na tua voz. O teu rosto sentirá as lágrimas frias rolarem sem prazo e data para parar… O silêncio registará os soluços de quem, a toda a força, tenta controlar o indomável. Nessas alturas, digo eu que deves sentir a falta de um abraço, de uma voz que fale os teus códigos, de alguém que perceba que a tua aparente auto-suficiência não é mais do que um mecanismo de auto-defesa que te permite lidar pacificamente com os outros, com as coisas supérfluas ou mais profundas, com o mundo em geral… Pedes emprestada uma armadura de impermeabilidade faça a tudo e a todos, só que não a sabes utilizar, simplesmente porque não és capaz de não te deixar envolver.
Todos te procuram para que os ajudes quando eles precisam, mas poucos se preocupam em tentar verificar se tu precisas que eles façam o mesmo; alguns que se lembram de ti para descarregar a sua frustração com o mundo e tu arquiva-la e junta-la à tua (que é mais sossegada e recatada); outros que te incomodam porque lhes podes ser útil de uma ou de outra forma, mas não se interessam em te pagar com menosprezo como moeda de troca… Se não contivesses tantas sensações, se não encobrisses tanto os teus sentimentos, talvez a tua serenidade não fosse tão cativante.
Ouvi-te soltar um suspiro antes de te esconderes em ti, antes de te afundares no teu íntimo, mas foi demasiado subtil, e acompanhado de um abanar da cabeça em sentido de negação. É essa atitude de encolher os ombros face ao que te acontece ou que deixas que aconteça que vai acabar por te destruir.
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