O diário: aparente inutilidade, desconcertante significância

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Um diário é o somatório dos registos quotidianos sobre o que de importante ou invulgar se passa na nossa vida e é, simultaneamente, algo mais do que a soma desses fragmentos e impressões do dia-a-dia; é o repositório que um dia mais tarde nos fará recordar episódios que, de outra forma, seriam esquecidos.

Não concordo de todo que escrever um diário seja mais necessário na adolescência, porque noutros períodos da vida do indivíduo é uma boa terapia, abrindo-nos um espaço de reflexão, avaliação e auto-análise. Escrever um diário obriga-nos a alguns minutos de introspecção a cada dia, de isolamento desejado e de fechamento na nossa concha.

Contar o que aconteceu na escola ou no trabalho, partilhar sentimentos com o papel, confidenciar coisas imperscrutáveis, acumular opiniões e conhecimentos, descrever aprendizagens, arquivar as mudanças efectivas na nossa vida, resguardar as memórias de tempos idos, guardar as fotografias, os cartões e as flores secas por entre as suas páginas… enfim, uma infinidade de possibilidades que fazem de um diário pessoal um tesouro de valor incomensurável.

Um diário será sempre o maior guardião dos nossos medos, dúvidas, incertezas, revoltas, desabafos, objectivos. Sim, o papel é passivo e acrítico, mas é incondicional, não trai a nossa confiança em nenhuma circunstância. Um diário é o nosso cofre de segredos, emoções, fantasias, sentimentos, sonhos.

Um diário é propriedade privada e intransmissível. Daí que não pode haver maior afronta do que tentar invadir essa propriedade, apoderando-se desse património alheio. Mesmo que resulte de uma curiosidade exacerbada, é uma espécie de crime onde a cobiça e a ânsia de se apropriar de um herança tão preciosa desce o criminoso à mais reles das condições humanas.

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