01:40

A necessidade de estudar é evidente, mas o papel em branco e a caneta pousada na mesa ganharam essa luta de forças e não resisti a ceder ao segundo apelo… Não tenho nada de mais para contar. Simplesmente apetece-me preencher o papel imaculado, apetece-me conspurcá-lo com meia dúzia de tretas que são do senso comum e do desinteresse consensual.
Caminho de um lado para o outro na tentativa de me fazer passar pelo tempo e não que ele passe por mim. Quase faço um quilómetro neste frenesim. Começo a sentir vertigens e sento-me na cadeira de madeira, fria e impessoal. Vejo demoradamente a parede clara do prédio degradado em frente à minha janela. Desisto de me cansar com observações longínquas e saio à rua para desanuviar.
O nervosismo percorre-me. Procuro uma companhia. Preciso de conversar. Quero esquecer que amanhã tenho um exame pela manhã, que não me apetece estudar, que me sinto desmotivada, que pouco me importa a minha auto-confiança, que menos ainda me interessa que isso não é razão para me sentir assim.
Hoje não consigo olhar para um saber estilhaçado por entre livros, para pormenores dos quais não me vou lembrar depois de amanhã, provavelmente nem amanhã. Talvez por isso me tenha decidido a ir ver a água cair na fonte. Não consigo ver as lágrimas caírem dos meus olhos na imagem reflectida na água. São invisíveis, mas sinto-as rolarem-me pelo rosto.
Estou cansada de perscrutar a transparência da água e a opacidade de um saber inútil. Gostava de ouvir umas palavras de incentivo. E eis que, no regresso a casa, elas surgem na forma de uma mensagem no telemóvel. Alguém que, mesmo longe, pressentiu que estava a precisar. E, agora, que o papel está preenchido com caracteres de cor negra, ou vou dormir ou vou estudar.

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