Há dias em que somos assim…

09:01


Procuramos o equilíbrio mesmo em condições adversas;
Teimamos em concretizá-lo, correndo sérios riscos.

Pousamos sem garantias de uma aterragem bem sucedida.
Batemos asas para nos afastarmos das intempéries.
Nada está definido e buscamos um local improvável,
Porque, aí, ninguém nos encontrará e não seremos notados.
Contudo, tal como esta pomba foi fotografada num instante,
Também nós somos percebidos, ainda que o repudiemos.

Desejamos ter alma de pássaro para não nos apegarmos
E ansiamos por um novo ciclo migratório, porque é ele:
Que nos trás uma nova perspectiva de podermos planar,
Que nos deixa descrever, no céu, uma rota imprecisa.

Não queremos criar raízes para sermos completamente livres.
Deixamos crescer as nossas asas sem as tentarmos experimentar…
Quando o fazemos, as quedas sucedem-se e
demoramos a levantar-nos.
Afinal, ainda não sabemos voar…
Cedemos à atitude de contemplação e de admiração de quem o faz.

Lá daquela varanda, na casa desabitada, abandonada, esquecida,
Pela qual todos passam e só reparam que é inestética no meio das outras
(e isso é logo um entrave para a verem efectivamente),
Estamos em paz e observamos.
É por isso que escolhemos pontos altos…

Nessas madeiras escuras e velhas dessa varanda alheia e familiar,
Tentamos restabelecer o equilíbrio, reencontrar a estabilidade,
Tentamos ver além do horizonte entrecortado pela folhagem cerrada das árvores.
Olhamos para os lados e certificamo-nos que não temos testemunhas.
Não queremos companhia; pois há percursos necessários e exclusivos!

O sol tenta reavivar o brilho ido dessas vidraças antigas.
Colocamo-nos na trajectória dos seus feixes luminosos,
Pretendendo sugar a energia que falha.

Há dias em que somos assim…

You Might Also Like

3 apontamentos

Total de visualizações

Procurar no blogue