Uma citação, duas opiniões

15:37

«O Amor é como a sombra. Se correres atras dele, nunca a conseguiras apanhar, mas se lhe virares as costas, ele seguirte-a para sempre.»
(Margarida Rebelo Pinto, in "Pessoas como nós")

«O Amor...palavra com significado ambíguo! Não existe uma definição clara, simples e objectiva do Amor, existem milhares ou mesmo milhões, pois o Amor é tudo o que de melhor existe, ou pelo menos tentamos acreditar que seja. È algo fisicamente invisível, mas que pode ser sentido com grande intensidade, capaz de mudar a nossa vida de um momento para o outro, aparece sem aviso prévio, impossível de domar e dominar. O Amor atinge tudo e todos, não escolhendo formas nem feitios, idades ou raças, e um sentimento global, talvez o mais diversificado e unificado de todos os sentimentos.

A Margarida Rebelo Pinto diz que "O Amor é como a sombra.", poderá ser mesmo uma sombra, pois esta só existe se estivermos num local iluminado, da mesma forma que só podemos sentir Amor se não estivermos completamente sozinhos. A comparação da MRP com a sombra prende-se com o facto de esta andar sempre connosco, mas que nunca a conseguimos alcançar se corrermos atrás dela, é verdade, a nossa sombra anda sempre a nossa frente se a luz estiver por detrás de nós e por mais que corramos, nunca a alcançaremos, mas no Amor talvez não seja assim tão evidente, pois se amamos alguém e não corrermos para lhe dizer o quanto o amamos, ele poderá simplesmente desaparecer das nossas vidas sem nunca saber o quanto era importante para nós, não podemos portanto, esperar que a pessoa que amamos descubra o que sentimos por ela, em contra partida ao levantar a ponta do véu poderá acontecer que a sombra fuja e nos, por mais que corramos, nunca a conseguiremos apanhar, ela caminha mesmo a nossa frente com a mesma velocidade, esta sempre tão perto de nós que por vezes acreditamos que vamos conseguir... Diz também que se lhe virarmos as costas, a sombra nos seguirá para sempre, sim, mais uma vez acontece com a nossa sombra, quando a luz esta a nossa frente, mas no Amor, se revelamos o nosso sentimento por alguém e simplesmente virarmos as costa, talvez essa pessoa não nos siga para sempre, enquanto que a sombra o faz indefinidamente enquanto caminhemos contra a luz.

Quando amamos alguém, sentimos a necessidade de lhe dizer e correr atrás, mas existe um outro sentimento aliado ao Amor, o medo…medo de perder a sombra, que esta nos abandone e caminhe a nossa frente sem que a possamos de alguma forma alcançar, talvez e apenas o Lucky Luck o conseguisse…

Não podemos afirmar portanto que o Amor é como….o Amor é simplesmente inexplicável e incomparável, é único e inconfundível.

A comparação da MRP é muito verdadeira, mais uma vez, não é uma comparação generalista, porque não se pode aplicar em todos os casos, no Amor nunca haverá situações iguais, pois não existem duas pessoas iguais…

O Amor não engana...»

Esta citação de Margarida Rebelo Pinto é uma imagem bem conseguida, sem dúvida. Contudo, eu prefiro acreditar que o Amor é um jogo de luz-sombra que envolve e suga todo o tutano do ser humano. Para o Amor ser sombra precisa de uma fonte de luz que ilumine a nossa convicção para seguirmos em frente, para persistirmos na conquista, para tentarmos a aproximação, para percebermos que é importante não querer agarrar algo que é imaterial.

Talvez quanto maior é a nossa necessidade de amar, mais o Amor teima em nos fugir, numa espécie de luta de forças em que saímos sempre em desvantagem. Sim, o Amor é como a sombra, uma vez que nos oculta a Luz, que abriga o mistério dos sentimentos, que nos leva a apurar o sentido da visão e, sobretudo, a acreditar sem ver, ou seja, a confiar… Para correr atrás do amor é necessário vencer a nossa insegurança mesmo que as certezas permaneçam por iluminar.

Se virarmos as costas há uma sombra que nos persegue, mas ela não nos tira nada nem nos dá aquilo que tanto precisamos. Apesar de sabermos que a sombra está ali incondicionalmente e de, por vezes, observarmos a sua presença numa atitude de constatação óbvia, ela não se torna significativa na nossa vida, ainda que inseparável de nós. O Amor deve ser a soma de duas sombras que geram uma terceira, nova e completamente dissemelhante das anteriores, uma sombra que pode fugir, mesmo que assim não o desejemos e que lutemos inconscientemente contra essa hipótese. Todavia, devemos receber o amor de braços abertos, com tudo aquilo que ele tem de contraditório.

A sombra é quase sempre algo que não nos preocupa, não nos perturba, não prestamos grande atenção, quase que passa despercebida porque temos a certeza de que ela é inseparável de cada um de nós. O Amor é sempre a dúvida, a atenção permanente, a dedicação constante, algo que temos medo de perder a cada instante, algo que não nos deixa indiferente. A sombra soa a limitação, na medida em que assume as linhas e formas de um corpo sem luz própria, sem brilho; enquanto o Amor é algo que extravasa todos os limites, que expande horizontes, precisamente porque não assume nenhuma forma fixa e delineada.

Porque a luz gera sempre uma sombra quando recai sobre algo, gosto de conceber o Amor como o reflexo de uma luz maior. Não penso que se trate de correr atrás do Amor, pois é ele que ganha a maratona, numa desigualdade incontestável de vassalo e suserano. Defendo apenas que não devemos fugir dele! Podemos nem sempre estar preparados para abraça-lo, para agarrá-lo com todas as forças. Podemos ainda não ver mais nada do que a sombra, mas temos consciência da sua necessidade e a noção de que o Amor nos perseguirá e que é o maior privilégio que nos é concedido na vida. Há que vencer o medo de confessar o que sentimos perante uma eventual recusa da outra parte. Há que aceitar correr o risco de nos perdermos na sombra sem, de facto, conseguirmos ver a Luz…

É importante lutar por um Amor, correndo atrás, dado que ele representa aquilo que queremos ou pensamos querer, simboliza tudo aquilo que aspiramos ser suficiente para nos sentirmos completos. O Amor implica acreditar no impossível, sonhar com o eterno, desejar o paraíso, admitir a perfeição. Enfim, há que procurar afastar as sombras que não nos deixam ver a essência. Não podemos virar as costas numa atitude de aceitação, de desistência, perante os obstáculos. Temos que manter a esperança de sermos verdadeiramente iluminados, apesar das várias dificuldades.

A sombra acompanha-nos sempre, é algo que escapa ao nosso controlo, que faz parte do curso natural da vida, tal como o Amor. O Amor é parte integrante da existência (ou deve sê-lo), mesmo que não tenhamos consciência da sua presença efectiva, reconhecemos as suas manifestações subtis.

Em suma, o Amor permanece indefinível objectivamente. Apesar desta metáfora, não abarcar todas as múltiplas dimensões que o Amor pode assumir, tenho que concordar num aspecto: tal como a sombra, o Amor também não se deixa agarrar. A razão dessa impossibilidade é simples: o Amor é demasiado mágico para o apertarmos e excessivamente fugaz para o condenarmos à inexorabilidade do nosso tempo. O Amor é um tesouro que seguramos com as mãos bem fechadas, ainda que tenhamos a percepção de que, mesmo assim, ele se pode escapar por entre os dedos.

Resta acreditar que o Amor, quer seja sombra, luz, certeza, dúvida, risco, dependência, confiança ou mil e uma outra coisa, culmina num sentimento que apazigua e faz verdadeiramente feliz qualquer ser humano que se permita a vê-lo e a deixá-lo entrar na sua vida, dando-lhe um novo sentido, uma dimensão completamente diferente: uma plenitude profunda.
Patrícia Posse

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