Uns minutos aqui…

07:08

Da janela do meu quarto consigo ver o céu que me escapa, a magia que me expulsa da sua arena. Vejo o mundo através de um vidro: transparente mas inalcançável. Imagino-me a sentir a textura das cores do arco-íris. No entanto, resta-me apenas a sensação da frieza do vidro contra o meu rosto. Consigo desejar umas férias no infinito. Gosto de ver as luzes multiplicarem-se pelas avenidas quando a noite cai. Contemplo o pôr-do-sol e penso. É um prazer estar à janela do meu quarto e, por vezes, um martírio também.

Já dizia Fernando Pessoa, no “Livro do Desassossego por Bernardo Soares”: “se a nossa vida fosse um eterno estar à janela. Se assim ficássemos (…) para além de sempre! Se ao menos, aquém da impossibilidade, assim pudéssemos quedar-nos, sem que cometêssemos uma acção, sem que os nossos lábios lívidos pecassem mais palavras.

Nas tardes que o vento fustiga as árvores lá fora, vigio o seu sopro veloz e agressivo. Nos dias em que a chuva bate na janela do meu quarto, vejo as gotas de água escorregadias e sinto-as como lágrimas incómodas. Nas noites, as estrelas brilham e eu espreito-as da janela o meu quarto.

De facto, a janela do meu quarto tem algo de enigmático: ela enquadra muitas sensações, ela emoldura muitos cenários idílicos, ela encaixilha muitos limites, ela engasta a minha percepção do mundo.

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