Na paragem do autocarro

16:31

Há pessoas que não têm a noção do ridículo das suas afirmações e comportamentos! Certa manhã estava na paragem do autocarro e, nas minhas costas, só ouço uma voz masculina a disparatar.
Voltei-me e não precisei de muito tempo para retomar a posição inicial, depois da constatação que o homem estava excessivamente alterado para quem começa mais um dia sem se ter deitado. Começou a desatinar com uma senhora, até os desatinos atingirem a dimensão de insultos. Nestas alturas, tenho grandes dificuldades para me controlar… A minha digestão daquela cena ridícula foi interrompida por um braço amigo que me aconselhou, em surdina, a permanecer calada.
Passados breves instantes, fui embora e pesou-me aquela cobardia… Devia ter saído em defesa da senhora. Não podia ter compactuado com aquele indivíduo a maltratar as pessoas, a importuná-las estupidamente. Sempre ouvi dizer que “quem cala, consente” e eu senti-me aliada daquele homem com aquela mudez como que a concordar com todas as asneiradas que jorravam daquela bocarra.
No caminho de regresso ao abrigo das quatro paredes do meu apartamento, pensei e relembrei o episódio até lhe dar uma outra significação. Em que momento é que eu perdi a coragem? Aquele ímpeto idealista de querer mudar o mundo todo para melhor? Porque deixei que as convenções se tornassem imperatrizes da minha impulsividade? Eu sei, foi apenas uma mera discussão que nem sequer me diz respeito, mas sinto-me mal. Podia ter intervido, mesmo que isso não tivesse levado a resoluções diferentes, pelo menos, agora, sentir-me-ia de bem comigo mesma. Agora sei que não posso mudar o mundo todo, mas é o meu dever fazer algo para mudar o mundo que me é próximo. Desta vez, na paragem do autocarro não o fiz...

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