O racismo é uma doença da modernidade

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Os recentes tumultos na França, na Bélgica e na Alemanha obrigam as pessoas a concentrar a sua atenção para aquilo que, diariamente, semana a semana, ano após ano, têm vindo a contribuir: o aumento gradual da insatisfação dos emigrantes que o seu país acolhe indiscriminadamente.

Num país como a França, onde se apregoam os ideais da modernidade (igualdade, liberdade e fraternidade) é sintomático que os tenha vindo a contrariar desde que os instaurou. A base da igualdade não está só em promulgar leis com esse objectivo, mas que, de uma forma ou de outra, sejam cumpridas pela maioria das pessoas (já que a totalidade seria impossível).

A emigração traz para um país grandes vantagens, embora isso também implique alguns encargos (como as despesas com a saúde, a educação, a segurança social, enfim as mesmas despesas que um estado tem com os cidadãos que não são emigrantes). Os emigrantes vêm dar resposta às carências de um país. Se há falta de mão-de-obra para aqueles trabalhos mais pesados e aqueles que, geralmente, ninguém quer (como trabalhos na exploração mineira ou na construções de grandes infra-estruturas), os emigrantes são a solução. Esta é a filosofia de utilitarismo pragmático da qual a maioria dos governos padece.

Há que respeitar os emigrantes, o seu sonho e a sua luta por uma melhoria da qualidade de vida. Eles merecem ser tratados sem discriminações, porque têm direitos iguais a todas as outras pessoas. Não importa a nacionalidade, mas a pessoa. Não importa a cor da pele, mas a honestidade. Não importa a idade, mas a atitude. Não importa a profissão, mas a educação. Sem respeito mútuo não se pode desejar que haja harmonia social.

A convivência nunca poderá ser pacífica se de cada vez que alguém procura um emprego se levantam impedimentos de vária ordem para mascarar o motivo principal, que se prende com o facto de ser emigrante. A frustração culmina em revolta interiorizada que se tem vindo a manifestar (até há bem pouco tempo) de forma latente. Estes últimos dias têm mostrado à França, e também aos outros países que acolhem emigrantes sob as mesmas condições, a necessidade dos seus habitantes apelarem à sua consciência e repensarem tudo aquilo que têm vindo a fazer.

Se a emigração é um problema que se levanta aos estados, então eles devem preocupar-se em vedar a facilidade desses fluxos migratórios para garantir um desenvolvimento sustentável. Qual a finalidade das pessoas serem induzidas a “correr” para os grandes centros urbanos, na perspectiva de conseguirem um emprego, se depois acabam por serem ludibriados? Depois, as pessoas vão-se acumulando em barracas sem o mínimo de condições de salubridade, arrastando-se em condições de vida precárias, procriando mesmo sabendo que não podem assegurar um bom futuro aos filhos e disseminando um clima de inconformismo silenciado e de uma revolta contida. Esta é uma conjuntura comum a muitos países europeus, que perante os recentes acontecimentos em França correm um sério risco que fenómenos desse teor venham a eclodir no seu território.

O racismo é o culto de julgar as pessoas pelas diferenças que apresentam e que são visíveis a olho nu. Não interessa se são competentes ou honestas ou se pretendem empenhar-se. O que reina como critério principal são os estereótipos e os preconceitos que fazem parte do subconsciente colectivo das sociedades contemporâneas.

Todos defendem a igualdade e rejeitam que os apelidem de preconceituosos, mas a verdade é que, na prática, eles não são fiéis a esses ideais. Logo, os emigrantes travam uma luta injusta e desigual, em que são potenciais perdedores, porque lutam com um adversário de peso, que não se assume, que usa golpes baixos, que é tão somente uma imagem pré-concebida e instituída na mente daqueles que os avaliam.

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